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Exposição individual

O professor deverá ser o último a se retirar,

mesmo nos dias de chuva,

Temporada de Projetos

Paço das Artes - 2019

acompanhamento crítico

Mirtes Marins de Oliveira

(bandeira brasil)

26º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande 2019

(bandeira brasil, caminho suave, diário de classe)

Pequenos legados

2019

Aquarela  e grafite sobre papel algodão

22 aquarelas

tamanhos variados

Exposição coletiva

Urbano: Mostra de arte contemporânea

Fundação das Artes - São Caetano do Sul 2019 - curadoria Valdo Rechelo

16º Salão de Arte Contemporânea de Guarulhos

2020

(bandeira brasil, caminho suave, bate-bate)

Exposição coletiva

Ministério da solidão

Oficina cultural Oswald de Andrade

2021 - curadoria Julia Lima

(bandeira, bate-bate e arminhas)

publicado na Revista Têmpera

vol.2 Nº8 2020

Acervo

MAR

Museu de Arte do Rio

(planta/escolinha)

Publicado na Revista Têmpera - vol.2 nº8 2020

Pra começar esta série, fui relembrar a planta da casa em que morei na infância. Voltar ali era importante para percorrer o modo de viver naquele lugar e as brincadeiras que lá aconteciam. No fundo do terreno, depois do quintal, tinha uma edícula. Este quarto, além de conter os produtos de limpeza e a dispensa de mantimentos, era abrigo de móveis escolares - mesa de professor, carteiras de alunos, quadro de cortiça e lousa. Tudo obra da fábrica do avô marceneiro. Ali era uma espécie de refúgio de todo fim de tarde. Chegar da escola e ir brincar naquela escola era uma prática diária, levada a sério. No processo de repensar o modo de vida que ali existia e os caminhos que tomei depois de crescido, fui me questionando se, ao me tornar professor, havia ou não deixado de brincar. Imaginando que as práticas de adulto estavam iluminadas pela criança, comecei um percurso de registrar os objetos que se confundiam entre trabalho e brincadeira. Lembrava das idas à papelaria do bairro para comprar giz. Eles vinham numa caixinha branca com detalhes em verde e laranja. Não me lembrava exatamente da marca. Mas me lembrava do diário de classe azul claro e toda a burocracia que envolvia ser professor. Que para aquela criança era uma espécie de legitimação do ofício. Mal sabia que mais tarde essas atribuições seriam exaustivas e indesejadas. Materiais escolares se confundiam com brinquedos e isso inevitavelmente me levava a recordar dos itens que saíam do fundo daquela casa e frequentavam a escola que existia fora dela. Tanto os que deviam estar ali, como os que eram clandestinamente levados para lá. Estojo, canetinha, lancheira se misturavam com carrinhos, bichinhos e o porta-moedas que guardava o dinheiro que compraria álbuns, figurinhas e rifas, a serem escondidos entre livros e cadernos. Rememorar o transporte dos brinquedos para dentro da escola, me confundia cada vez mais com o que era de cada lugar e me punha a olhar também para as coleções que construíamos. De meninos ou de meninas, ingênuos ou nocivos, esses conjuntos me faziam estabelecer paralelos com o que via, como adulto, sendo repetido e ensinado aos meus alunos. Os legados que deixaram para gente, crianças dos anos de 1980 e 1990 e que, agora crescidos, replicamos, questionando-nos ou não. Comecei a entender que havia ali naquelas imagens, pistas de como fomos construídos. Que elas revisitavam experiências de infância das décadas do final do século passado e pensavam em possíveis influências que estas ações exerceram em nossa formação. E que elas também acabavam misturando memórias daquela geração com referências de tensões atuais. Há o interesse, portanto, para um relato, com certa sutileza didática, dos paralelos subliminares entre os tempos presentes nas imagens. Registros congelados que poderiam ter saído de um álbum de fotografias, guardado no fundo do armário, ou que deveriam ilustrar o material didático de uma possível escola de faz-de-conta.

 

Bruno Novaes

Junho de 2020

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